31.8.09

Retomada da Econômia Mundial

Os últimos dados divulgados no Brasil e no mundo apontam para uma retomada da economia. Existem motivos para comemorar, mas devemos permanecer de olhos abertos.A recuperação econômica está chegando muito antes do esperado. Nos EUA, o setor imobiliário, onde tudo começou, tem mostrado uma recuperação consistente, que, somada ao bom desempenho dos índices acionários e à política expansionista adotada pelo governo Obama, tem promovido uma melhora nos indicadores de confiança dos consumidores e do empresariado.No mundo, alguns países desenvolvidos, que, aparentemente, demorariam a sair da recessão, apresentaram expansão do PIB no segundo trimestre do ano. É o caso do Japão, que viu sua economia crescer 0,9% depois de cinco quedas consecutivas, e o da Alemanha, que teve alta de 0,3% no mesmo período.Sobre a China, nem se fala! O país parece pertencer a outro planeta. Isso porque, mesmo com todos os problemas enfrentados pelo mundo, conseguiu emplacar uma alta de 7,9% no PIB do último trimestre, logo depois de uma expansão de 6,1% no primeiro trimestre do ano, quando o mundo inteiro encolhia.No Brasil, o cenário também é animador. Para alguns setores da economia a crise parece não ter existido. Empresas ligadas a serviços e bens de consumo vêm apresentando vendas no mercado doméstico iguais ou superiores àquelas do mesmo período de 2008. As receitas de algumas destas companhias até caíram, mas como consequência de uma diminuição das exportações. O crédito tem mostrado vigor, alcançando um total de 47% do PIB, estimulado, sobretudo, pelo novo patamar de taxa de juros. E mesmo o nível de emprego, que normalmente demora a reagir, já apresentou recuperação de acordo com os últimos dados divulgados.Entretanto, é muito importante salientar que parte significativa da melhora observada é pautada em gastos públicos, uma vez que em todo o mundo os governos promoveram pacotes de estímulos econômicos como forma de amenizar o impacto da crise de crédito.O objetivo dos governos é estimular as economias com projetos de infraestrutura e políticas de subsídios a setores estratégicos, que promoveriam geração de novos postos de trabalhos e investimentos. Isso serviria de incentivo ao consumo, que, por sua vez, implicaria em uma retomada das empresas. Assim, elas voltariam a investir e contratar, dando início a um novo ciclo virtuoso para as economias.O problema é que as altas taxas de desemprego, as incertezas sobre o futuro e o alto grau de renda comprometida com o aumento do crédito às famílias no mundo desenvolvido desencorajam os indivíduos a consumir, limitando os efeitos positivos da expansão fiscal.Essa, talvez, seja a grande incógnita dos economistas no momento. De fato, estamos diante de uma melhora temporária, consequência de todo este esforço fiscal. Mas será que os estímulos governamentais serão realmente capazes de gerar este novo ciclo virtuoso?Ainda é difícil encontrar uma resposta clara para a pergunta acima. Em princípio, as economias estão reagindo bem, mas alguns indicadores importantes para uma retomada sustentável, como a geração de emprego e o nível de gasto com consumo das famílias, ainda não apresentaram os sinais desejados. De qualquer forma, já é possível ver uma luz no fim do túnel.E a Bovespa com isso? Mesmo depois da alta do Índice Bovespa de mais de 50% este ano fica difícil imaginar, com base no cenário exposto acima, uma queda acentuada do mercado acionário brasileiro.Os próximos indicadores sobre a saúde da economia no mundo e, principalmente, no Brasil deverão apresentar melhoras significativas, que já serão capturados no balanço das empresas neste trimestre. Tudo indica que o ciclo de ajuste de estoques esteja em sua fase final e as empresas, de uma forma geral, devem aumentar seus níveis de produção.De maneira geral, sem respeitar as peculiaridades de cada companhia, poderíamos separar as empresas em três grupos: as dependentes do mercado externo - pela fixação de preços de seus produtos ou por ser o principal destino de suas mercadorias, as voltadas para o mercado interno e concessionárias de serviços públicos.No primeiro grupo encontram-se as siderúrgicas, as mineradoras, as petroquímicas e petrolíferas. Ele tem uma maior participação no Índice Bovespa e irá se recuperar de maneira mais lenta, já que depende demais de uma retomada mundial. As melhores opções deste segmento são as empresas voltadas para o mercado doméstico.É no segundo grupo que se encontram as melhores performances da Bovespa. E não é para menos! As empresas dele estão voltadas para o consumo interno que tem se recuperado de forma surpreendente este ano e tem ótimas perspectivas para os próximos. Setores como o de construção civil, que tem sido uma das estrelas do mercado em 2009, tiveram suas ações altamente depreciadas no pico da crise, quando se temia uma escassez generalizada do crédito, e, agora, se recuperam graças à retomada do crédito no mercado interno e a alguns incentivos do Governo. Em minha opinião, este grupo continua sendo a melhor opção de investimento na Bolsa, mesmo após as altas recentes.O terceiro grupo também se beneficia da melhora interna, mas contém empresas com receitas mais estáveis e previsíveis e, consequentemente, suas ações apresentam menor volatilidade. Por essa razão, tais ativos foram os que menos recuaram na queda do ano passado e, em contrapartida, neste ano não estão conseguindo acompanhar a magnitude da alta do Ibovespa.De modo geral, continuo acreditando no bom desempenho do Ibovespa até o final do ano, apesar dos riscos ainda existirem. A Bolsa pode dar algumas balançadas, mas as boas perspectivas para 2010, sustentadas pela melhora dos balanços e indicadores econômicos neste semestre, devem amparar a alta do Ibovespa, que até o final do ano pode atingir a faixa dos 66.000 / 69.000 pontos.